Sobre o evento

Reflexões sobre racismos, violências e resistências balizam o
XIII Encontro Nacional de História da Mídia

O XIII Encontro Nacional de História da Mídia tem como tema #vidasnegrasimportam: racismos, violências e resistências nas dinâmicas do tempo. O lema surge nos Estados Unidos como #blacklivesmatter, sendo depois traduzido em vários idiomas. Sob esta temática serão incluídos debates e palestras a partir das múltiplas experiências do racismo no Brasil ao longo do tempo. No evento estão previstas reflexões, buscando consciência histórica crítica, articulações de processos de sociabilidade e estruturas sociais raciais com fenômenos e dispositivos comunicacionais.

As discussões devem percorrer desde o período da escravidão, passando pelos levantes de pessoas escravizadas, a organização de movimentos negros, o discurso de ódio racial, as dinâmicas entre a branquidade e a branquitude, as trajetórias negras, as formas de resistência e a visibilidade. De algum modo, o #vidasnegrasimportam revitalizou a esfera pública supranacional na tentativa de promover um debate antirracista. Se é verdade que a internet vem ao longo das décadas se firmando como um meio de ativar mobilizações e insurreições, também é certo que as lutas sociais agenciadas por formas de sociabilidade digital devem ser cada vez mais conectadas a ações nas ruas, instituições e práticas cotidianas no combate a estruturas sociais racistas.

O início do movimento

As manifestações nas redes sociais digitais sob o lema #blacklivesmatter surgiram após o assassinato de Michael Brown, em 9 de agosto de 2014, na periferia de St. Louis, no estado do Missouri, nos Estados Unidos. Brown, um jovem negro estadunidense, de 18 anos, foi alvejado e morto por Darren Wilson, oficial branco da polícia municipal. Os protestos rapidamente se espalharam pelo mundo.

Em 2020, em meio à avassaladora pandemia de Covid-19, as dinâmicas estruturais do racismo mais uma vez mostraram as suas faces mais cruéis e violentas. Tendo como suas últimas palavras “Eu não consigo respirar”, George Floyd foi brutalmente asfixiado até a morte pelo policial branco Derek Chauvin, em 25 de maio de 2020, na cidade de Minneapolis. O ato de Chauvin e a falta de ação dos demais policiais envolvidos foram captados por câmeras de celulares de transeuntes.

Apesar de esse evento acontecer em condições de dispersão do campo visual e em uma era de vigilância tecnológica, os policiais fizeram o que muitos outros agentes fazem: tomar negros como criminosos e resolver o problema com a morte. O comportamento não pode ser visto fora de uma lógica racial de supremacia branca, estruturada pelos séculos de colonialismo e escravização de pessoas negras, e do recorrentemente manifestado direito de tirar a vida de outra pessoa, uma sensação de possuir o destino do corpo negro.

A violência contra pessoas negras periféricas e marginalizadas, sobretudo, como nos casos de Brown e Floyd, frequentemente ocorre na série de recusas legais e falhas em reconhecê-las como tais: nenhum relatório significa nenhum crime, nenhuma punição e nenhuma reparação. A dispersão do campo visual, portanto, serve para tornar a violência do âmbito do indiscutível e do inegociável, colocando aqueles que duvidam do ato racista como racistas e apoiadores das mortes de pessoas negras que foram midiatizadas e tornando visível como a vida real não só depende de sua circulação virtual, mas também dos conflitos em torno do controle do sentido das representações.

Rompendo o silêncio

O nome “Black Lives Matter” (extrapolando suas origens particulares) afirma-se e circula por meio de formas de discurso e ação, dando voz ao que não está incluído, tornando visível a presença de uma ausência. Ao se afirmar no discurso, “Black Lives Matter” rompe o silêncio – o silêncio que é em si violento, pois trabalha para ocultar, censurar e encobrir a violência das ordens raciais que estruturam a sociabilidade humana. A ausência é de negritude, pois as estruturas do racismo são figuradas em torno das estruturas e práticas sociais dominantes que legitimam a branquidade, postulando uma lógica binária do que é branco e do que não é.

 No dualismo racial da metafísica da branquidade, prima-se pela rarefação de ambiguidades, contradições, resistências e linhas de fuga. A lógica da racialização e da categorização são fundamentais, e não acidentais, para o mundo em que vivemos. A persistência de lógicas racializadas de organização social são pressupostos de uma ideia de supremacia e formas de articulação que estabelecem posições-sujeito particulares, dividindo as pessoas e o mundo em categorias de “branco”, como o próprio e o normal, e “não branco”, como o impróprio e o anormal.

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